SERENO II  –  josé marins


Os três termos, sinônimos, orvalho, rocio e sereno, são belos.
Fazem parte da poética brasileira, no poema e na letra de música.
Fato que não importa ao haicai, ele não busca a beleza da linguagem.
A natureza não é bela nem feia. A observação do poeta haicaísta não
carece desses conceitos.

É um poeta que coleciona breves revelações.

O poema haicai, que para alguns parece figurativo, é apenas sugestão
do que vivenciou o poeta. As leituras são recuperações do leitor.
(Arrisco-me a dizer que a leitura de um haicai é um desafio à teoria
da recepção, mas isto é outra história).

O que me interessa, nesse momento como haicaísta, é compreender
o kigo não apenas como um termo utilizado no haicai para representar
um fato sazonal. Busco ver os kigo como nomes dados aos seres da
natureza, assumidos pelo haicaísta na leitura das estações, que se inserem
na cultura do povo.

Um apuro da kigologia de Goga & Oda está nos verbetes. Estes auxiliam o
poeta como um dado da técnica haicaística. Penso, por exemplo, que ninguém
precisa fazer um curso de observação de pássaros, mas deve se interessar por
observá-los com cuidado. Biólogos registraram em livro 315 aves que vivem no
perímetro urbano da cidade de Curitiba. Conheço bem quinze delas. Convivo
com elas no meu quintal, no em torno da minha casa, no meu bairro.

Não aceito o papo dos que dizem não haver mais natureza nas cidades. Pude
ver, observar, quatro beija-flores diferentes e raros, durante os dias
que passei em um hotel na rua Marquês de Itu, no centro de São Paulo. Eles visitavam um jardinete cuidado por um funcionário do hotel.

Antes eu era um caçador de haicais, andava com uma lista de kigos no bolso. Ou me dizia, agora é época de florescerem as paineiras, fique atento. Foi
o tempo que dediquei ao haicai que fez dele um poema importante para mim. Hoje, sei, o haicai depende do alcance de meus recursos. Uma coisa me anima: o aprendizado, essa educação pelo haicai, que torna o poeta integrado à natureza, uma espécie de poeta naturalista.
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manhã no jardim –
cai na terra ou volta ao céu
o orvalho das folhas

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josé marins